segunda-feira, fevereiro 08, 2010

A crônica do cronista doente crônico.

Hoje eu achei esse texto que comecei a escrever em 2008, mas nunca conseguia acabar. Criei vergonha na cara, fui lendo, encaixando, inventando e acho que eu terminei! :)


A crônica do cronista doente crônico

Nada é normal nessa crônica. Nem o doente que a escreve e muito menos os doentes que a lerão. Doentes todos eles são, todos vocês são, talvez não tomem a quantidade de remédios que eu tomo, mas continuam em suas perversões que lhe complicam. Minha história é engraçada, bem ao tipo cômica para não dizer trágica.
Eu era um cara normal, aliás, continuo. O que talvez intrigue é essa minha ânsia de querer mais e isso não é característico da minha doença apesar de ela ter começado assim. Era uma pessoa sem problemas, tinha uma família bacana, filhos criados e uma mulher muito gostosa que me satisfazia plenamente. Mas por talvez não ter problemas, a minha ânsia de querer mais me levou ao fundo de um poço.
Procurando problemas ou talvez querendo achar a solução para o tédio, provei um placebo e viciei. Engraçado viciar num placebo, que aparentemente é algo vazio. É, me defini, me viciei no vazio por causa dessa vida tão cheia. Cheia de amor, de gente, de barulho. Uma vida cheia de vida e enjoei da vida cheia de vida. O doente crônico aqui deixa a crônica de lado e começa a narrar sua própria vida.
Além de doente crônico, desconhece as próprias estruturas textuais. Desviciando nos léxicos, semânticos e gramaticais, me viciei num placebo! Já pensou no cúmulo do perdedor? É exatamente esse. Mas sabe que a minha doença crônica até me ensina? Não tem nada a ver com metástases e coquetéis. Tem a ver comigo mesmo.
Paciente terminal no quarto de um hospital com cuidados paliativos. Se era para retardar a morte, eu dizia: “Não me mantenham com aparelhos e nem aparatos”. Eu queria era poder fazer sexo na cama do hospital! Ah, como eu queria poder fazer isso. Ia com certeza ajudar na minha recuperação. Recuperar o que? Eu já estava morto.
A alegria vai matando a gente aos poucos. Ninguém pode ser sempre alegre e quando não a temos, achamos que é hora de morrer já. A minha doença crônica é não se acostumar com a tristeza da perda que vamos tendo ao longo da vida. E meu placebo é o tédio crônico dessa cama de hospital, afinal, ser alegre cansa.


E cansa muito, aliás.

4 comentários:

Ailton Jr disse...

Como diz a minha mãe, "o oposto da vida não é a morte, mas a indiferença". Até na busca pela doença o cronista tá procurando uma forma/objetivo de vida, eu acho... ;)

Pedro Cindio disse...

Demais!

Batatais Cultural disse...

Adorei a crônica, e o blog como um todo. Seu texto se parece bastante com o meu... não sei, uma opinião minha.

Bruna Mayne disse...

oi *-*
adorei suas palavras .

vs tem algum contato pra tirar uma dúvida minha ?
Bgs ;*