quinta-feira, abril 29, 2010

O céu sem estrelas.

Saia já daqui! - disse ela berrando com ele após mais uma discussão. Coisas que ficaram frequentes na vida do casal após os acontecimentos que se sucederam por mais de cinco anos.


Helena tinha seus trinta e três anos, três filhos e um trabalho bem bacana que ela exercia com muito amor, afinal fazia o que gostava e era muito respeitada pela posição que ela tinha dentro da empresa. Era uma bela morena de cabelos negros e lisos, um corpo escultural que lembrava uma ampulheta, mas que o tempo não desfazia daquela beleza estonteante - os anos só aumentam o charme - dizia ela.


Roberto era inteligente, charmoso e irresistível. Era um advogado de renome na região e mantinha uma posição agressiva frente a profissão que ocupava, era necessário para impor um certo respeito ao seu nome e aos seus casos. Tinha 42 anos e estava casado com Helena há dez anos e eram felizes, eram felizes. Dois jovens com sede de começar a vida tinham se tornado dois ausentes, preocupados, destruídos.


Seus três filhos, Sophia, Mariana e Theodoro eram crianças lindas. Sempre dedicadas na escola e muito preocupados com os pais. Eram amados e nunca passaram sequer dificuldade. "Mas as coisas ultimamente andaram meio complicadas" - disse Sophia, a mais velha, se referindo ao casamento quase desmoronado dos pais.


"Solta o meu braço, Roberto!" - dizia Helena gritando no quarto e batendo na parede sem muito poder fazer nada. E Roberto apertava fortemente o braço dela e batia em sua cara com força. Helena chorou e sorriu, chorou de dor, de aperto mas bradou sorridente pelo estrago que fez na vida da secretária desgraçada que desmoronou seu casamento.


Gisele era a pecadora vitimada. Vinte e dois anos, secretária de Roberto, insinuava-se claramente para ele e o deixava até sem graça. Porém, Roberto macho-provedor esqueceu-se de sua esposa e filhos no momento que percebeu-se dentro de um motel clamando pelo corpo de Gisele baixinho. Gi derretia-se no sexo de um homem poderoso, mais velho e casado. 


"Aquela aliança me deixava louca." - dizia ela sem o menor pudor. Deitava e deleitava ardentemente no colo dele em um motel de luxo da cidade. "Já trouxe sua esposa aqui, seu cafageste?" - perguntava ela sadicamente. "Isso não é lugar para esposas. Isso é lugar para vadias como você." Ela ria diabolicamente e se contorcia freneticamente depois de ser penetrada sem o menor pudor.


Helena foi ao escritório de Roberto na hora do almoço para convidá-lo para almoçar e não o encontrou. Desconfiada do marido por causa dos constantes desaparecimentos, perguntou para alguém das redondezas se não o havia visto. "Não vi o seu Roberto não, dona Helena." - disse alguém que trabalhava lá perto. Até que uma menina acena para ela e diz que viu o "Seu Roberto" saindo com uma mulher "naquela direção". Helena descontrolada saiu na direção indicada e viu o letreiro de um motel chiquérrimo.


Ligou para uma amiga com um passado manchado nas fichas policiais e perguntou o que fazer naquela hora - "Preciso de uma decisão rápida" - disse Helena a Cristina. - "Conhece alguém que tenha uma arma? Vou buscar." Vil e decidida, consegue rapidamente uma arma sem nem saber atirar. Vai para a porta do motel, espera quinze minutos, espera mais meia hora, espera mais uma hora. E reconhece então, o carro do marido. 


Sem pensar muito, certeira, atira na cabeça de Gisele. Ver a explosão do sangue a deixa excitada, eufórica, incontida e aliviada. Deliciosamente Helena brada por dentro, deixa Roberto confuso no carro e foge cantando pneus. Chega em casa abraça as crianças e logo Roberto chega atrás desesperado.


"Solta o meu braço, Roberto!" - dizia Helena gritando no quarto e batendo na parede sem muito poder fazer nada. Ria e chorava com sadismo. Apanhava na cara com tesão e sentia-se vingada, plena. Sem muito pensar, com a arma na mão atira em seu próprio céu da boca, naquele céu vingado não tinha nenhuma estrela.

Um comentário:

márcio disse...

Muito bom.Um conto com um final poético.