Hoje eu vi uma série de vídeos do TedTalks e eles sempre são vídeos engrandecedores com alguma lição pra vida. Hoje, vendo essa do Ken Robinson, juro que repensei sobre toda a minha vida escolar e sobre todas as escolhas que tive que fazer na vida. Sempre tive um lado artístico muitíssimo aguçado, uma percepção acima do normal, uma leitura muito avançada e uma escrita muito acima de todos os alunos da minha turma na época da alfabetização.
Na segunda série, os professores queriam me pular para a quarta por causa da leitura e da escrita que ultrapassava a dos meus colegas. A professora dizia que tinha uma mentalidade de quinta série, e na época, cheguei a fazer prova para entrar na quinta série e consegui. Mas por motivos alheios, decidi não ingressar na quinta série, apesar dos meus pais me colocarem meio que "na parede" por uma semana.
Os entendo perfeitamente. Eles estavam preocupados com o meu bem estar e formação. Mas foram se passando os anos e finalmente eu entrei na quinta série e começaram as malditas aulas de matemática. SEMPRE odiei matemática. SEMPRE odiei números. Números multiplicações, economia, estatísticas e mais o caralho que me remetesse a essas combinações absurdas.
Sempre preferi viajar nas aulas de artes, nas aulas de literatura, nas escolas literárias, na lógica da gramática, nas letrinhas abraçadinhas que a gente aprende no alfabeto. E quando fatalmente a gente começa a pensar em faculdade, os professores da gente vão se tornando os verdadeiros inspiradores. Sempre me inspirei nas professoras de português. Em especial, ainda, tiveram a Cléa, a Camilla e a Tereza que me fizeram enxergar o português, a literatura e a gramática como algo visceral, intenso e verdadeiramente artístico e mágico.
Logo veio na mente: LETRAS. "ser professora? ficar sem comer?" "lidar com moleques indisciplinados?" "lidar com pais reclamões?" "diretores tiranos?" "ganhar pouco?" - e claro, essas coisas ficam na nossa cabeça em momentos de indecisão. Quando não há a certeza da paixão, qualquer coisa vai te desmoronando.
Depois pensei, que tal JORNALISMO? - "ninguém vai te ouvir" "nossa, é bem sua praia... " "comunicativa, falante, se expressa bem, escreve bem, vai lá." "ih, jornalismo não dá dinheiro", "ah, você quer aparecer na tv." (etc...)
Beleza! Jornalismo. Já tinha até me decidido, quando comecei a fazer os vestibulares da UNB. Quando aquelas questões de álgebra saltavam na minha frente, dava vontade de tacar fogo na prova. EU QUERO JORNALISMO, PORRA. Cadê as outras questões? Creio que a limitação de potencial já começava no primeiro dia, na prova de humanas mesmo, com o medo da prova de exatas que viria no outro dia.
Sempre fui contra as absurdas provas de exatas da UNB e sempre acreditei que aquilo não media potencial criativo que ninguém e (muito menos intelectual). E quando eu ia ficando para trás e os amigos iam passando me sentia meio falível, impotente, burra, fraca mesmo. E ainda tinham aquelas cobranças para todos os lados. Cobranças de pais, professores, parentes e o caralho. (hoje em dia eu vejo que aquelas cobranças não eram NADA perto das atuais, mas enfim.)
E com esse sentimento de derrota depois de fazer 5 vestibulares pra UNB, decidi tentar mudar de ares e procurar provas que avaliavam competências específicas, como a UFG, que na segunda fase, cobrava mais humanas. PASSEI! E nessas a gente se acha até inteligente. Entrei pra Relações Públicas, conhecendo bem pouco sobre o que era, mas muito entusiasmada.
No decorrer das classes, aquela mesma cara do ensino médio. "PEGA A XEROX, LEIA E RESENHE, BEIJOS :*" E os alunos reclamando (inclusive eu) e professores praguejando que se somos incompetentes na faculdade, seremos incompetentes no mercado de trabalho. E toma cobrança.
"Não falta senão é bomba", "Semana que vem tem prova", "Copiou o quadro? Vou apagar." E mais uma vez, aquele discurso de educação tradicional, que pouco incitou o debate e a reflexão. Na verdade, uma das coisas que mais aprendi em RP é IMAGEM. "Cuide da sua imagem" "Olha a competência" "Olha a roupa que você veste" "Olha o que você anda falando", "Isso não é RP", "Isso é de jornal", "Isso é publicidade", "Para com isso. Isso tá errado."
São problemas de RP? Não. São resquícios de uma educação tradicional que não forma pensadores, mas robôs industriais, infalíveis, apáticos e que sempre precisam estar felizes, pois "relacionamento interpessoal é muito importante". Todos fingidinhos, arrumadinhos, engomadinhos e abaixando as cabeças para seus gestores. Ah, e sorrindo sempre, claro, como já mencionei.
Hoje, eu critico artistas que não querem saber de grana, critico as ideias de amigos, critico ideias dos outros e me tornei uma pessoa apática. Que todo santo dia abaixa a cabeça pro gestor. Que todo dia, tenta pensar em algo de bom pra fazer, mas devido aos imensos bloqueios, cortes, críticas e a incrível falta de coragem para errar, me tornei uma pessoa apática, sem personalidade.
Antes, eu, que adorava escrever, não tenho mais tanto ânimo, depois de tanto ouvir que meus textos eram uma bosta. E descobrir que mesmo que não tivessem sendo escritos para eles, eram considerados meras "bostas". Logo, me tornei, apática, sem personalidade, burra, de textos ruins, incompetente, irresponsável, nada criativa e sem graça.
E ainda tenho que escutar que isso é coisa da minha cabeça, que tenho que ser forte, trabalhar sob pressão e ainda assim, fazer tudo bonitinho e robotizado. Então, FODA-SE, quem acha que os problemas que a gente tem são coisas da nossa cabeça. Poderia ter simplesmente alguém que ouvisse e quisesse, de fato, ajudar a descobrir o potencial de alguém, em vez de julgá-lo.
Estou cansada. Em época de TCC descobri que meus textos, além de serem belas bostas, não servem pra porra nenhuma. Afinal, o TCC não tem quase NADA de conclusões suas, afinal, depois de 4 anos você é uma bela merda de um acadêmico inconsistente, inexperiente e magoado com as críticas de todos os professores, chefes de empresas, colegas e muitos outros.
Quando me diziam que a mente de uma criança é a mais criativa e perfeita eu não conseguia entender. É porque de fato, não se passou por essa selva chamada carinhosamente de vida.
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