quarta-feira, maio 23, 2012

Tchau, Sabiá.



Mãozinhas curtinhas da enxada, comer sem talheres, saia no joelho, camisa de botões, coquezinho no cabelo. É assim que me lembro. Também recordo dela sentada de ladinho no sofá da sala, no cantinho dela e meu vô no outro. Os dois se olhando, olhando a TV e esperando alguém chegar para passar um café ou esquentar um leite. "Vai lá, minha filha.. Tomar um leitinho com pão". "Vai lá, filha.. Comer jantinha que a vó esquentou". Só consigo me recordar de toda essa bondade, de todo esse carinho.

E como minha vovó era engraçada. Rabugentinha. Brigada com a gente quando a gente não comia ou quando a gente era malcriado. Pegava nossa mão, abria e batia. Como ela bem dizia: "deixa de malcriação, menina". E a gente ria, achava engraçado a vó falar "Estou aqui a cardapá. Nem bem e nem má". Era muito divertido estar do lado daquela sabiá. Quando eu lembro que diante de toda essa benevolência teve muita luta, muito trabalho e muitas conquistas, só quero admirar mesmo. E dizer que apesar de não ter tido estudo nenhum, de não saber nem ler e nem escrever, aquela senhorinha com seus 1,50 m arrasava no que era conhecimento de vida.

Ver suas mãozinhas tão pequenas cobertas de crisântemos foi algo muito doloroso. Mas a gente foi vendo que a vovó tava resignada. Não brincava mais, não reclamava mais, não batia mais. Parece até que sabia o que esperar e estava se preparando para isso. É, parece que talvez, ela estivesse mais preparada que todos nós, que não soubemos o que fazer ao vê-la toda de branquinho, coberta de flores. Espero que meu sabiázinho que carregou tanta gente embaixo das asas possa ter voado para um lugar lindo para o seu descanso.


E que possa estar observando tudo com visão panorâmica depois da linda coroa que Deus colocou em sua cabeça.






Serás eternamente lembrada, vózinha.
Fique com Deus.



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